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Bem vindo ao Blog "Deus ajuda só a quem cedo madruga?"



Este espaço abrange textos sobre divulgação científica, cronobiologia, ritmos biológicos, tempo e também serve como um projeto em andamento de intersecção entre ciência&música


Boa leitura, comentários são bem vindos.



Um Abraço



Leandro Duarte



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

POESIA DE WILLIAN BLAKE

Num grão de areia ver um mundo
Na flor silvestre a celeste amplidão
Segura o infinito em sua mão
E a eternidade num segundo
(Willian Blake)

À Manhã

Ó sagrada virgem! de alvura adornada
Abre os dourados umbrais do céu e sai;
Desperta a aurora inebriada no azul, deixa a luz
Emergir de sua morada no leste e esparge
O suave orvalho que vem com o novo dia.`
Ó luminosa manhã, saúda o sol
Que qual um caçador cedo se levanta
E se alça sobre nossas colinas

Ao Verão

Ó tu, que percorres nossos vales, com
Tua força, detém teus violentos corcéis, amaina as
                                  [flamas
Que se arrojam por suas imensas narinas! Tu Ó Verão,
Várias vezes aqui erguestes tua tenda dourada, pois
                           [muito
Temos dormido sob nossos carvalhos, contemplando
Com alegria teus rubros membros e tua opulenta
                              [cabeleira.
Nas paragens mais sombrias, muitas vezes escutamos
Tua voz, quando o sol sobre seu carro abrasador,
Percorre as profundezas do céu; Na beira de nossas fontes
Senta-te, e em nossos vales musgosos, á beira
de um cristalino regato, despe tua túnica de
Seda e lança-te à corrente:
Nossos vales veneram o Verão em sua glória.
Nossos bardos, que tangem a corda de prata, são famosos
Nossa juventude é mais audaz que a do sul
Nossas donzelas são mais vivazes nas danças alegres
Não nos faltam canções ou instrumentos de prazer,
Nem doces ecos, nem águas claras como o céu
Nem coroas de louros frente teu calor sufocante.

Noite

Declina o sol,
Levita a estrela Dalva
Silente os pássaros
Nos ninhos,
Busco o meu.
E a lua em flor
No alto zênite,
Se assenta
E sorri na noite.


Blake, Willian, 1757-1827. O casamento do céu e do inferno e outros escritos. Tradução de alberto Marsicano-Porto Alegre: L&PM, 2010.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

FASES DA VIDA ACADÊMICA!


INICIAÇÃO CIENTÍFICA
Escuta música MPB. São os primeiro passos na vida científica. A vida é maravilhosa.


MESTRADO
Escuta música POP. Se está completamente empolgado com o que se faz, e quer ser o melhor na sua área.



DOUTORADO
 Escuta Heavy Metal. O dia começa às 8 da manhã e só acaba às 10 da noite. Nada dá certo e ainda tem que lidar com resumos para congressos, relatórios, disciplinas, paper para escrever, orientar os ICs, etc, etc.



PÓS-DOUTORADO
 Escuta HIP HOP. Aumento de peso por causa do estresse. Percebeu que não pode salvar o mundo, mas isso não lhe importa, porque ainda assim te continuam pagando um salário. E os papers? Se sair algum, beleza, se não, tudo bem, sempre se tem oportunidade para encaixar algum review.



PROFESSOR DOUTOR
Escuta Gansta Rap. O senso de humor mudou totalmente daqueles dias de iniciação. O dores de cabeça são mais frequentes e começa a esquecer as coisas que foram faladas. Só vive a base da cafeína. O melhor é que ninguém pode te criticar.  



PROFESSOR TITULAR
Escuta vozes em sua cabeça. Esquece dos horários das reuniões, dos dias da semana, do trabalho de seus alunos...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Gene "vinte e quatro" O artigo original e a divulgação na VEJA

The novel gene twenty-four defines a critical translational step in the Drosophila clock

Nature, Volume: 470, Pages: 399–403

Date published:



(17 February 2011)

Autores:

  1. Department of Neurobiology and Physiology, Northwestern University, Evanston, Illinois 60208, USA

    • Chunghun Lim,
    • Valerie L. Kilman &
    • Ravi Allada
  2. Department of Biological Sciences, Korea Advanced Institute of Science and Technology, Daejeon 305-701, Korea

    • Jongbin Lee,
    • Changtaek Choi,
    • Juwon Kim &
    • Joonho Choe
  3. Department of Life Sciences, Pohang University of Science and Technology, Pohang 790-784, Korea

    • Sung Mi Park &
    • Sung Key Jang
Resumo:

Daily oscillations of gene expression underlie circadian behaviours in multicellular organisms. While attention has been focused on transcriptional and post-translational mechanisms, other post-transcriptional modes have been less clearly delineated. Here we report mutants of a novel Drosophila gene twenty-four (tyf) that show weak behavioural rhythms. Weak rhythms are accompanied by marked reductions in the levels of the clock protein Period (PER) as well as more modest effects on Timeless (TIM). Nonetheless, PER induction in pacemaker neurons can rescue tyf mutant rhythms. TYF associates with a 5′-cap-binding complex, poly(A)-binding protein (PABP), as well as per and tim transcripts. Furthermore, TYF activates reporter expression when tethered to reporter messenger RNA even in vitro. Taken together, these data indicate that TYF potently activates PER translation in pacemaker neurons to sustain robust rhythms, revealing a new and important role for translational control in the Drosophila circadian clock.
http://www.nature.com/nature/journal/v470/n7334/pdf/nature09728.pdf





Notícia publicada na mídia brasileira em relação a esse artigo:


Cientistas descobrem o gene que torna tão difícil acordar

Gene seria responsável por regular os ritmos diários de sono e despertar

Deixar a cama cedo é um trabalho duro e agora a ciência sabe o culpado: um gene apelidado de 'vinte e quatro'. Em experimentos com moscas, pesquisadores da Faculdade Weinberg de Artes e Ciências, dos Estados Unidos, verificaram que quando esse gene era removido, as drosófilas tinham seus relógios biológicos alterados. Segundo os cientistas, a descoberta se aplica também a humanos, podendo ser relacionada à dificuldade de acordar. As conclusões do estudo foram publicadas na edição desta quinta-feira da revista Nature.
O código genético das drosófilas já havia sido transcrito em 2000, mais até hoje ninguém conhecia a função de um gene chamado CG4857, nome científico do 'vinte e quatro'. Para descobrir essa informação, a equipe do neurobiólogo Ravi Allada testou 4.000 moscas, cada uma com um único gene superexpresso, ou seja, contendo uma variedade  que se manifesta com mais força que o padrão. Dessas moscas, aquela que tinha uma mutação mais potente do 'vinte e quatro' apresentou um ciclo diário de 26, em vez de 24 horas. Isso levantou a suspeita de que o gene seria o responsável por acertar os ponteiros de nosso relógio biológico.
Entender o seu funcionamento foi um passo além. Algumas das moscas tiveram o 'vinte e quatro' removido e o efeito obtido foi surpreendente: elas passaram a dormir e acordar em horários alternados, sem obedecer a um ciclo regular. "As moscas que não tinham o 'vinte e quatro' não ficaram mais ativas logo antes do nascer do sol. O equivalente humano a isso seriam aquelas pessoas que têm problema para levantar da cama pela manhã", conta Allada. Quando observaram mais de perto o funcionamento do 'vinte e quatro' os pesquisadores entenderam que ele acionava a produção de uma proteína chamada PER e que esta, por sua vez, regulava o relógio biológico dos insetos.
Humanos – "Existem vários genes que coordenam o sono. O ‘vinte e quatro’ atua especificamente nos dizendo a que horas ir deitar, provocando cansaço, e avisa nosso sistema para estar preparado, ficando mais alerta quando o sol está nascendo e é hora de acordar. Mas não influencia, por exemplo, na definição de quantas horas temos que dormir, função que corresponde a outros grupos genéticos", explica o neurobiólogo. Como os genes do sono já descobertos até agora em drosófilas e humanos funcionam de maneira espantosamente similar, Allada conclui que o mesmo raciocínio deva servir também para o 'vinte e quatro'. “Nós não identificamos ainda seu respectivo humano, mas isso é uma questão de tempo”, opina.
A teoria de Allada é que existam cerca de duas dúzias de variedades do gene que possam alterar o ciclo diário de uma drosófila de 19 a 26 horas. Nos humanos, ele acredita que o número de mutações seja ainda maior. "Há pessoas com os mais diversos distúrbios do sono, aqueles que acordam cedo demais e outros que perdem o emprego por não conseguirem se levantar na hora certa. Estes últimos sofrem com a alcunha de preguiçosos, quando tudo que têm é uma má herança genética", conta ele. "Nosso objetivo é entender como esses genes atuam em nosso ciclo diário e como fatores como o relógio biológico interagem com estímulos luminosos, por exemplo. Há ainda muitas questões que queremos responder."

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Luz mal planejada destrói céu noturno

São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2011


Em Brasília, número de estrelas observáveis a olho nu caiu de 2.000 para 150 em 20 anos devido à iluminação.
Eletricidade ineficiente joga luz de postes pra cima; hoje, normas técnicas sobre o assunto ainda são insuficientes.

CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA

O brasiliense Marcelo Domingues, 39, sabe bem qual é a dor de perder o céu.
Astrônomo amador, ele se mudou há dez anos para um condomínio em Sobradinho, cidade-satélite da capital, onde passava as noites observando as estrelas. Até que a companhia elétrica local mexeu na iluminação pública. "Destruiu tudo", resume.
A luz dos postes passou a ofuscar os astros e Domingues ficou sem seu local privilegiado de observação.
O outrora famoso céu noturno de Brasília é uma vítima do crescimento urbano das duas últimas décadas. Ele veio acompanhado da expansão da iluminação pública: 3,4 milhões de postes novos só entre 2000 e 2008.
O problema é que essa iluminação é ineficiente. Os postes jogam a luz em todas as direções, inclusive para cima. Isso privou as cidades da visão das estrelas.
Em Brasília, por exemplo, era possível observar a olho nu a Via Láctea e quase 2.000 estrelas por ano no começo da década de 1990. Hoje, o número caiu para 150.
As primeiras vítimas dessa poluição luminosa, claro, são os astrônomos.
A Universidade de Brasília tem um observatório didático na cidade que ficou parcialmente inutilizado. "Em dez anos qualquer observação ficará inviável", diz o físico José Leonardo Ferreira.
A USP passou por esse problema já nos anos 1990, quando foi obrigada a mover seu observatório de Valinhos, região de Campinas, para Brazópolis (MG).
A cidade abriga o maior telescópio do país, do Pico dos Dias, no LNA (Laboratório Nacional de Astrofísica).
O pico, porém, também foi alcançado pelas luzes. Segundo um cálculo do engenheiro do LNA Saulo Gargaglioni, a poluição luminosa das cidades vizinhas faz com que o espelho de 1,6 m de diâmetro do telescópio tenha a potência real de 1,3 m.

DESPERDÍCIO
Mas não são apenas astrônomos e casais apaixonados que perdem com a poluição luminosa. Ela também causa danos reais ao bolso do consumidor de energia.
"As luminárias comuns desperdiçam de 30% a 35% da luz", diz o astrônomo amador mineiro Tasso Napoleão. "Com um anteparo nas luminárias, poderiam usar lâmpadas de menor potência e economizar dinheiro".
Foi o que se fez na República Tcheca, primeiro país do mundo a aprovar uma lei contra a poluição luminosa, e na região italiana da Lombardia. Em ambos os lugares, a substituição da iluminação pública devolveu várias estrelas à população.
No Brasil, segundo Marcel da Costa Siqueira, gerente de Eficiência Energética em Iluminação Pública da Eletrobras, existe uma norma técnica que aborda o assunto, mas "sem caráter restritivo".
Saulo Gargaglioni, do LNA, propôs na sua dissertação de mestrado, na Universidade Federal de Itajubá, um rascunho de lei nacional sobre o tema. "Não deu em nada", conforma-se.
Sem poder salvar o céu do país, o LNA tenta um acordo para mudar a iluminação urbana dos vizinhos. Nos bairros novos, tem dado certo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Para cada remédio, um horário ideal

Para cada remédio, um horário ideal

Tomar o medicamento no melhor momentodo dia melhor sua ação e minimiza os efeitos colaterais

ESTADÃO.COM.BR/SAÚDE

Mariana Lenharo - Jornal da Tarde
SÃO PAULO - Nem duas vezes por dia, nem de oito em oito horas. O horário preciso em que o paciente toma um remédio pode determinar o sucesso do tratamento. É o que defende a cronofarmacologia, ramo da ciência que estuda justamente qual é o melhor momento do dia para um paciente tomar cada medicamento.
“Vários estudos mostram que, se tomados na hora certa, alguns remédios vão ser potencializados, enquanto os efeitos colaterais serão menores”, diz a biomédica Regina Pekelmann Markus, professora do Laboratório de Cronofarmacologia do Instituto de Biociências da USP, um dos pioneiros no tema do País.



Dar mais importância aos horários é importante porque as atividades do organismo variam ao longo do dia, de acordo com o chamado ciclo circadiano (leia mais ao lado). Esse ritmo orgânico, por sua vez, é orquestrado pelo hormônio melatonina, essencial para regular o sono e produzido exclusivamente à noite, na ausência de luz.
Em outras palavras, o corpo usa a variação entre o dia e a noite para ajustar o seu próprio relógio biológico. É o ciclo circadiano que determina, por exemplo, que a pressão arterial atinja seu pico e a frequência cardíaca aumente um pouco antes do despertar: tudo isso porque ocorrem descargas dos hormônios adrenalina e cortisol nesse horário, ajudando o corpo a se preparar para ficar alerta. Assim, o melhor horário para tomar remédios contra hipertensão é pouco antes de dormir.
Já a queda de cortisol, que também tem um efeito anti-inflamatório, se dá por volta de 4h, algo de impacto importante para quem tem asma: sem cortisol, os brônquios pulmonares ficam inflamados, dificultando a respiração – é por isso que o remédio contra asma precisa fazer efeito nesse horário.
No Brasil, a cronofarmacologia tem sido pesquisada há cerca de 10 anos e o Conselho Federal de Farmácia está fazendo um levantamento sobre os estudos nacionais ligados ao tema. Alguns remédios já começaram a trazer na bula, inclusive, indicações precisas sobre o horário adequado de administração, prática consolidada nos EUA.
Para Regina, os médicos têm ficado mais atentos à influência do horário sobre os remédios. “Mas a melatonina ainda não está sendo muito considerada na prática clínica”, critica. Ela é organizadora de uma conferência internacional sobre o tema marcada para junho, nos EUA. “No mundo inteiro há pressão para que os médicos levem em consideração o fator do horário na administração de remédios”, diz.
O pneumologista José Manoel Jansen da Silva, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, é um dos brasileiros que já aplicam a cronofarmacologia – assunto que ganhou um capítulo inteiro em um livro organizado por ele: Medicina da noite: da cronobiologia à prática clínica. Para o médico, contudo, ainda faltam estudos sobre o tema.
“Conhecemos alguns medicamentos que, de acordo com o horário em que são tomados, sofrem uma interferência muito grande. Mas não existem estudos sobre todos os remédios.”

Notícia publicada no ESTADÃO.COM 08/02/2011