O infarto agudo do miocárdio é um evento de grande
relevância clínica que requer internação hospitalar. O diagnóstico clínico é relativamente simples e bem estabelecido, geralmente baseado no tripé história clínica, evolução eletrocardiográfica e determinação dos níveis de algumas enzimas. É um dos diagnósticos mais frequentes nos pacientes hospitalizados nos países ocidentais. A despeito do grande acúmulo de conhecimentos acerca da etologia, fisiopatologia, epidemiologia, história natural diagnóstico e tratamento das doenças cardiovasculares, nos últimos 50 anos, elas continuam sendo o mais importante grupo de causas de morbidade e mortalidade a partir da quarta década de vida. Entre os fatores de risco conhecidos destacam-se: idade, gênero, hipercolesterolemia, hipertensão, diabetes mellitus, obesidade, hábito de fumar, vida sedentária, estresse psicológico e antecedentes familiares, entre outros.
Destaco dois trabalhos interessantes
que abordam a questão cronobiológica do infarto agudo do miocárdio. Um deles
foi feito na região de Ribeirão Preto-SP e teve como objetivo estudar a
variação semanal da hospitalizações por infarto. E qual o dia foi o mais
prevalente? Nas segundas-ferias dizem os autores. Eles discutem muito bem os
achados e concluem em concordancia com outros autores que a segunda-feira
significa a transição entre um período de atividades livre para um período de
atividades programadas, daí um estresse engatilhado pelo início da semana. E
realmente, nas segundas-feiras ocorre um fenômeno chamdo de dessincronização
interna temporária, pois, no final de semana a sincronização de nosso relógio
biológico passa por grandes modificações (sábado e domingo sem a sincronização
pelo trabalho para a maioria das pessoas). Notamos na segunda-feira um grande
mau humor, fadiga, sonolência e mal estar que não se devem apenas pela longa
distância do próximo final de semana (sexta-feira chegue logo!) mas também pela
dessincronização de nossos relógios biológicos durante o final de semana recém
terminado.
O outro trabalho interessantíssimo foi o que os
autores apontam um horário do dia específico que o infarto mais ocorre: as 10
horas da manhã. Na verdade, dizem eles, a frequência de infarto agudo do
miocárdio é maior entre as 8:00 e as 14:59 comparados com outros horários do
dia. Podemos com base na figura abaixo admitir que os inícios dos sintomas e os
infartos ocorrem com maior frequência durante a parte da manhã.
A explicação é bacana. Nos
horários matutinos combinam-se
vários fatores que podem resultar na ruptura da placa aterosclerótica e
trombose o que, parando nas artérias coronárias vem ser a causa do infarto
agudo do miocárdio. Estes fatores são o aumento na pressão sanguínea arterial,
aumento da estimulação hormonal de adrenalina e aumento dos níveis de cortisol,
e finalmente a hiper-reactividade das plaquetas. Todos esses fatores agindo
pela manhã facilitam a ocorrência dos infartos nessas horas.
Então, se pensarmos nesses
dois “dados” cronobiológicos, um paciente cardíaco deve estar atento às
segundas-feiras e, mais importante, ao cuidado redobrado em todas as manhãs. As
drogas para controlar a pressão alta, nesses casos, devem ser administradas
antes de dormir para que na manhã seguinte haja o efeito desejado de queda na
pressão e diminuição da probabilidade de infarto.
Rev.
Saúde Pública v.34 n.2 São Paulo abr. 2000. Hospitalizações por
infarto agudo do miocárdio segundo o dia da semana: estudo retrospectivo.
Juan S Yazlle Rocha e Gleiton C M Silva
American Heart Journal V.163 n.2 2011. Circadian
variations of ischemic burden among patients with myocardial infarction
undergoing primary percutaneous coronary intervention
Stephane
Fournie, Eric Eeckhout, Fabio Mangiacapra, Catalina Trana, Nathalie Lauriers,
RC, Ahmed T. Beggah, Pierre Monney, Stephane Cook, Daniel Bardy, Pierre Vogt,
Olivier Muller.